segunda-feira, 16 de julho de 2012

Crítica: "Enquanto Agonizo" de William Faulkner

Terminei há uma semana de ler Enquanto Agonizo e fiquei instigada a uma análise da obra de Faulkner e dos recursos literários utilizados por ele. Por isso, fui obrigada a escrever a minha primeira crítica no blog. Confesso que fui desonesta... li duas críticas antes de escrever a minha, mas Faulkner não é de opinião fácil e toda crítica ajuda.

Em Enquanto Agonizo, Faulkner reúne impressões, pensamentos e diálogos através de monólogos de 15 pessoas para mostrar o perfil psicológico de uma família que conduz o corpo da matriarca Addie Bundren ao cemitério em outra cidade, de forma a cumprir seu último desejo.O marido e os cinco filhos partem com o caixão determinados a cumprir seu objetivo, mas o que parece simples não o é. E não são apenas as barreiras físicas, como duas pontes que caem devido à uma tempestade, que dificultam o enterro, mas as diferenças existentes entre os membros da família, que vão se tornando mais claras para nós, leitores, à medida que são relembradas ou discutidas pelos filhos, o pai ou alguém que aparece no caminho.

Percebi no decorrer da leitura o recurso literário usado por Faulkner e o achei curioso: descrever a criação dos pensamentos dos personagens à medida que vão sendo criados por eles, ou seja, se o pensamento ficar pela metade, Faulkner é ousado o suficiente para deixá-lo assim nas páginas do livro. O nome disso é, apresento-lhes (acabei de descobrir), stream-of-consciousness(!). Descobri também que Virginia Woolf e James Joyce (quem é esse?) são autores que utilizam esta técnica, um tanto enfadonha pelas descrições nada ordenadas, onde tempo, espaço e formas se misturam, mas que Faulkner consegue oferecê-la de uma forma interessante (não li Woolf ou Joyce pra saber se têm a mesma sorte). 

Além do stream-of-consciousnesscada capítulo da história é narrado em primeira pessoa por algum personagem e, como são muitos personagens, são várias as primeiras pessoas nos informando sobre o que acontece ao seu redor e em seu interior. Faulkner usa brilhantemente essas técnicas para tornar mais dinâmica a exposição da dificuldade de relações existente na família (inexiste em alguma?).Eu diria, ainda, que são as cartas em suas mangas, já que o livro seria quase comum se não as tivesse.

O eixo da roda do artigo de Silviano Santiago para folha:
"Os monólogos são de responsabilidade do marido e dos cinco filhos de Addie, bem como dos vizinhos com quem mantêm laços de amizade. [...] No tempo do enquanto, o que é tido como superficial no calendário das pequenas ações e conversas do cotidiano passa a calar fundo graças às reminiscências. O monólogo que constitui um personagem leva água para o monjolo do outro. Na família, cada um é diferente do outro e são todos iguais

[...] Na literatura francesa, cartesiana por definição, o narrador/ personagem da prosa introspectiva tem de ser inteligente, capaz de destrinchar sentimentos e emoções que constituem o sujeito no mundo, ao lado de pares cujo maior prazer é se exercitarem na perversidade e sutileza dos jogos sociais aristocratizantes.

Faulkner não tem medo de usar o monólogo quando o personagem é destituído de raciocínio lógico. Seus colegas de ofício, como Hemingway ou Steinbeck, preferem imitar a técnica do romance policial. Ambos se valem dos recursos da psicologia comportamental (behaviorista) que lhes é proposta por William James e seus seguidores. Nada de vida íntima nos romances dos expoentes da geração perdida europeizada, tudo é ação e gesto. Faulkner trata a brutalidade de outra forma. Ele é o detetive da intimidade caipira. Devassa-a para descobrir (e mostrar) seres tão complexos na sua fúria de viver quanto os citadinos. [...] Estão diante de seres ignorantes, violentos e brutos, mas ao mesmo tempo extremamente sensíveis, capazes duma fala profética e poética modelar, como é o caso, respectivamente, de Darl e Vardaman. Uma baforada de ar do campo abre as janelas e varre os salões cosmopolitas. [...]"

Através dessa breve crítica, descobri por quê Faulkner chamou-me atenção:  "Faulkner narrou a decadência do sul dos Estados Unidos da América, interiorizando-a em seus personagens, a maioria deles vivendo situações desesperadoras no condado imaginário de Yoknapatawpha.", ou seja, utilizou da introspecção em seus personagens para mostrar, de forma sensível, uma dura realidade. E é isso que tem de ser feito: embelezar um problema social de forma a torná-lo visível à quem não vê nada além da beleza, ou à nós, que preferimos a arte! (é muita poesia!)


Não posso deixar de citar as críticas que li e que me funcionam como referência.Primeiro essa que é mais uma breve opinião de um leitor: catalisecritica.wordpress.com/2010/04/28/enquanto-agonizo-william-faulkner/#comment-2101

E essa mais completa, de ótima qualidade:

Um comentário:

José Leonardo Ribeiro Nascimento disse...

Faulkner não é mesmo moleza, Gabrielle, mas a leitura recompensa cada segundo investido.
Ainda não reli Enquanto Agonizo, como respondi lá no seu comentário, até porque tenho muitos livros de Faulkner ainda para explorar.

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Victório Sarkis

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