quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Verdade Simplória

Veja como esse senhor devora essa macarronada
Deve ser a vida, que para ele termina.
A senhora sorri por ter sido aprovada
Deve ser o cansaço, que a ela extermina.

O suco é exageradamente diluído
E carinhosamente adoçado.
O sapato é delicadamente puído
Assim como o lar, vastamente adorado.

As rugas são tão belas, Deus meu!
Quero eu ter marcas da vida assim.
As palavras, apesar de escassas, são proferidas com tanta polidez, Deus meu!
Por que os ricos também não agem assim?

Aquela casa é o meu sonho. Meu passado... e meu presente!
Também quero lá viver em meu futuro
Posto que tudo o que é venturoso toma rumo
E tudo o que a gente quer, a gente sente.

Of the Heart in My Head

I’m sleeping now
Call me tomorrow girl
I’m sleeping now
Tell me your dreams girl
‘Cause I’m a dreamer too
Tell me your loves girl
‘Cause I’m a lover too
But tell me the true
‘Cause I love you.

O Casual Inconstante

-Oi! Há quanto tempo. Dá um abraço aqui!

-Pois é... seis meses não?

-É... desde o final das aulas. Mas e aí, alguma novidade?

-Bom... o meu coração voltou a bater.

-Mas como? Voltou voltou, ou é só aquela coceguinha no peito que você sentia de vez em quando?

-Não. Voltou mesmo, eu tenho certeza, tô apaixonada.

-Mas e o ...? Você já o esqueceu?

-Enquanto o meu coração tava com ele, como naquele clipe do Gnarls Barkley, eu tava morta. Mas agora que eu conheci esse cara, ele é tudo o que eu sempre quis e não sabia...

-Você tem certeza? Por que você sempre acaba sendo como aquele personagem do Jim Carrey em "Brilho Eterno...", lembra? Ele se apaixonava por toda mulher que lhe dava atenção, enquanto você se apaixona por todo cara que escreve melancolicamente.

-Eu tenho certeza, não o conheço ainda... mas eu sei.

-Você acha que voltou a viver graças a um cara que você nem conhece...?

-Eu sei o que ele sente pela forma como ele escreve. Isso é tudo que eu preciso saber de um cara!

-Eu acho que você tem que sair mais. Vamos combinar pra próxima ...

-Não! Eu prefiro esperar ele postar algo novo no blog. A cada nova poesia eu tenho uma overdose de vida.

-Ah, quê isso. Eu tenho um amigo solteiro, vamos.

-Agora o meu coração é do escritor do blog. Ele pode dispensar palavras graciosas ou ofensivas ao meu sentimento. Eu devo esperar a sua reação para poder planejar novamente a minha vida.

-Mas você disse que tinha voltado a viver. Por que, então, vai esperar uma resposta dele?

-Porque agora eu tenho uma explosão de alegria e otimismo, mas como sou calculista, preciso saber o quanto essa sensação vai durar para poder usá-la gradativamente.

-Então tá bom. Eu tenho que encontrar o Daniel no McDonald's, outro dia a gente se fala.

-Tá bom, mas e você, algo novo?

-Não... tudo na mesma há... a minha vida toda! Parando pra pensar, a minha vida não tem tido nada novo desde o meu namoro. Há dez anos que tudo segue um plano detalhadamente enfadonho. Você é quem tem razão. A inconstância é a vida. Obrigada!

-De nada... Então eu vou usar um pouco dessa sensação de vida que não aparecia há anos. Até mais e viva à Inconstância! Haha... se cuida.

Mulher Acionária

- A senhora é ruim feito o demo e dura como uma pedra! Eu vou embora pra nunca mais voltar!

- Vai começar a sobrar leite aqui em casa, até que enfim, esse seu filho parece que tem a fome do mundo no estômago.

A porta de madeira barata e surrada de tanto uso é batida. A mulher que sai é a quinta ou sexta filha. A sua irmã gêmea ainda permanece. A mãe correu a espiar o sofrimento de seu fruto. Pela janela, viu uma mulher pequena e fraca segurando um bebê em um braço e uma mala cheia no outro. Estava um sol de rachar cuca de sertanejo e a mulher que saía tomava o gosto pela sua coragem.

A mulher que saiu é sofredora, só chorou quando chegou à casa do homem que amava. Ter um filho aos dezoito anos é assustador, principalmente quando se mora em uma favela e sua mãe não aceita imperfeições de comportamento, mesmo sendo a mulher que mais errara na vida. O pai dessa criança é honesto... honesto até demais, por isso é pobre e raquítico. A criança terá um futuro tortuoso, pois o amor dos pais, apesar de ser o maior do mundo, não bastará para custear as despesas mensais. A fome e a dor de cabeça os abaterão dali a uns dez anos. Até que eles agüentaram, dirão os conhecidos. A mulher que saiu merecia um banquete de trinta noites, precisava mesmo engordar, coitada. Precisava ser bem tratada e receber elogios. Na juventude, teve coragem para seguir a sua paixão, enquanto os jovens da classe alta arriscavam-se a seguir uma banda norte-americana.

A mãe chorou, não podia chorar ainda. Restava uma filha para ela mostrar o seu coração empedrado. A vida é assim mesmo, se as filhas sobrevivessem à negação de uma mãe, seriam mulheres fortes, raçudas! Aquelas meninas seriam mulheres de caráter, sempre representando uma austeridade militar, mas seus corações estavam desfragmentados e jamais seriam completos e pacíficos.

A desgraça da mãe começou cedo. Não teve a sua castidade violada como as outras colegas pobres, mas conheceu as dores de se trabalhar cortando cana aos sete anos. As fibras de seus músculos foram forçadas demais, causando terríveis dores musculares. Talvez isso provocou o empedramento de seu coração, pelo possível acúmulo de fibras ao seu redor. O corpo humano é complexo, leitores, não desconfiem de seus mecanismos de defesa, já que tais fibras poderiam ter como função apenas a proteção do coração, que viria a receber fortes impactos ao longo da existência da pobre mulher.

A mãe é um ser muito curioso. Possui uma ligação com seus frutos que o pai jamais terá. Aliás, o pai saiu para comprar cigarros há quarenta anos, se alguém souber quando ele volta, que avise. Se for preciso, a mãe deixa o seu estômago gritar para alimentar os filhos ou sofre um acidente para protegê-los. Essa mulher era assim, sacrificou-se durante toda a sua existência para que suas filhas tivessem arte, educação e cultura, mas elas saíram com coragem demais e jogaram-se de alma na primeira paixão que cruzaram, que não foi o estudo, mas a alma e o corpo de um homem.

As filhas também não são ruins. São as necessidades que determinam as ações de uma pessoa. Se a falta de esperanças e a proibição predominam em um lar, as pessoas tendem a saltar na primeira liberdade que encontram, é natural. É assim com a fome: se meu estômago dói, ou ainda, os de meus filhos, pegarei comida alheia e serei julgada como ladra. A sociedade é mesmo cruel, pois aqueles que julgam não possuem grandes necessidades, restando às classes desfavorecidas as “grandes” ações. Os jornais são prova disso, os miseráveis agem e os avantajados sentam e falam.

Durante os aniversários, a família permanecia separada, a filha dizia que a mãe não lembrou dela e a mãe dizia que as filhas a esqueceram, quando na verdade todas lembravam-se de todas. É na morte que se encontram, afinal as lágrimas parecem servir para que as pessoas se abracem e peçam perdão, que é duradouro enquanto a dor da morte fica presente no indivíduo, sendo substituído pelo rancor quando a vontade da vida aparece.

E assim essas mulheres viviam, em uma família instável ou comum, se o comum for a instabilidade. Tornavam-se cada vez mais severas no tratamento com as outras pessoas e no enfrentamento de seus medos. São as novas mulheres, que não expõem sentimentos para não serem fracas, pois tem uma vontade do tamanho do mundo e querem provar a que vieram. Mulheres duras, mulheres belas e mulheres de intenso caráter, essas sim são as fortes trabalhadoras que realizam as grandes ações pelas fortes necessidades.

Cativas

Amei logo com todo amor:
Extremo, imenso, dependente.
Em cada momento sentia o ardor
De ter que estar contigo, inteiramente.

Não sei por que, parei de amar.
Motivos fracos, mas presentes.
Decidi também parar de sonhar.
Já não era mais associada aos persistentes.

Palavras proibidas repetidamente proferi.
Malditas sejas, oh serpente!
Em meu encalço apenas permaneci.
Calada, retórica, na genialidade da mente.

Com vinte anos eu morri.
Apodrecida, germinei a semente
Do fruto que mais gostavas, e eu ali.
Fiquei a observar-te eternamente.

Princípios

Novos poetas nasceram.
Poetas do novo milênio.
Poetas que sujos cresceram
Com o fim da ditadura do boêmio.

Os choques elétricos feriram
 A minha sanidade mental.
As agressões puniram
O meu corpo nu e brutal.

Uma nação nasceu
De poetas mortos e tolos.
Uma esperança floresceu
Na mente daqueles corações ocos.

Eu sou apenas o fruto
Da luta daqueles filósofos.
Eu sou apenas o luto
Por eles que, juntos, filósofos,
Me deram o poder da liberdade
Para amar-te ou matar-te,
Mas eu perdi a vontade:
Não vou matar-te só amar-te.

Hoje sou apenas o fruto
Do capitalismo autoritário.
Não perco, nem luto:
Faço apenas parte da sociedade, sou um otário.
Sou a pachorra que mata,
Mas luto pelo errado.
Apenas concordo com a nata:
Que joga meus princípios pelo ralo.

Victório Sarkis

He was kind, he was generous, A truly gentleman. He was my man, he was gorgeous, A real trust man. Great adventures we had toget...