quinta-feira, 22 de julho de 2010

Na Trajetória de Sant Lucy

Voltamos novamente à estaca zero.

-Por que diz isso, Robert?

-Você sabe muito bem, Stan.

-Haha... você não deveria ser tão pessimista. Afinal, envelhecemos mais. Isto já é alguma coisa.

-Só se você se referir ao INSS, Stan.

Esse diálogo vazio deu-se num apartamento dos Blocos Residenciais de Sant Lucy, na nublada cidade de Nova América. Não sabemos muito bem, ainda, o que levou esses dois homens a ter esse diálogo, não é mesmo? E isso aqui não é como o filme "Mais Real que a Ficção", então vamos à estaca zero.
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Stan era um fanfarrão, bem, ainda o é, mas agora está mais para um velho beberrão. Dedicara toda a sua vida à química e à busca da Verdade Absoluta. Está certo que uma parte da população também dedica a sua vida à essa mesma busca ingrata e Stan não diferia-se dessas pessoas, afinal sua dupla fita helicoidal de DNA não era nada exclusiva. Contudo, esse homenzinho realmente tinha algo de especial, afinal quem é que se casa com uma mulher negra, pobre e estupidamente burra apenas por amor?(Se um de meus leitores tão assíduos tiver esssa resposta, que me comunique imediatamente, por favor).

Mary era o nome dela. Dela. Dela. Dela.

(Isso ficou na cabeça de Stan por dois meses).

Até que um certo dia, de repente, não mais que de repente, o ainda jovem Stan a viu na calçada mais longa de seu caminho. Ela vinha com um sorriso na cara, decerto recebera algum elogio ou simplesmente alguma atenção de alguém. Essa gente não estava acostumada a se sentir bem, diriam os nazi-fascistas. Stan gostou do que viu e decidiu cumprir o que prometera a si mesmo dois meses antes. Se visse o sorriso de Mary, que ele suspeitava existir, falaria com ela. Não se sabe se foi apenas o estômago de Stan ou se todos os seus órgãos resolveram guiá-lo àquela conversa, porque ele caminhou quase como viera ao mundo, sem rumo, mas vestido.
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-Quer casar comigo e fugir daqui?

Mary pensou ter ouvido mal, nem preciso explicar-vos o por quê. Stan piscava insistentemente os olhos, como se desejasse que a amada respondesse logo.

Respiração. Respiração. Respiração.

Calma. Calma. Calma. Calma!

Mary respondeu, não com a voz que queria, mas com uma pior, que ela logo pensou 'que voz podre' ao acabar de executar a fala. Mas isso foi justificável, não apenas isso como também todos os erros desse dia. Tudo o que é ao vivo é pior. E a vida é agora,meus amigos!
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-Como ele vai se chamar?

-Robert!

-Por quê?

-Eu tive um mestre com esse nome. Gostava muito dele, até que ele me traiu, mas esse Robert vai me ajudar...e muito.

-Está bem, Stan.

-Tudo bem pra você, Marylove?

-Não precisa nem perguntar, Stan. Eu te amo e isso já te dá direito de escolher muitas coisas sem me consultar.

O triste é que Mary não recebia uma parcela de amor a cada vez que uma pessoa interferia em sua vida.
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Robert estava cansado. Stan continuava com um sorriso na face em busca da Verdade. A questão, amigos, é que Stan chegou bem próximo Dela. Mas ser vizinho dela não necessariamente significa conhecê-la.

A vida no Sant Lucy continuava a mesma, com exceção de Mary, que havia desaparecido. O tempo permanecia nublado, as nuvens estavam cada vez mais inertes. E, mesmo assim, Stan agradecia sorridentemente por cada dia que abria as pálpebras.
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Algo se repetiu, não se sabe se foi parte de um ciclo ou apenas uma peça do efeito dominó, que não tem início ou fim. Uma pessoa chegou tão próximo da Verdade quanto possível e ela terminou por desaparecer. As pessoas ao redor inicialmente contagiam-se com a vontade de seus semelhantes de encontrá-la, mas terminam por julgá-los como loucos por não obterem uma recompensa palpável.
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Os seres ao redor cansam-se, mas o que é melhor: cansar-se por buscar algo que não tem existência comprovada ou cansar-se por despreender julgamentos às pessoas que caminham no sentido de algo com existência duvidosa?
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Vocês, caros leitores, já devem ter escutado que o importante é caminhar no sentido certo. Um físico adicionaria, ainda, que não importa a intensidade dessa velocidade.
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A questão é que a Verdade é simples, muito simples...

Loucura

-Mamãe, a senhora é louca?

-Não, meu filho... por quê?

-Eu queria que a senhora fosse louca.

-Não fale besteira filho!

-A professora disse que os loucos são felizes...

-Como ela pode saber?

-Ela estudou. Ela disse que eles dão vida às suas vontades e, por isso, não fazem nada do que não querem.

-Mas nós também não fazemos coisas que não queremos.

-Eu sei que a gente faz, mamãe. Eu vi a senhora com o papai e eu ouvi a senhora ao telefone.

-Ah, aquilo não foi...

-Os loucos conversam apenas com outros loucos, mamãe, porque as pessoas normais não gostam de pessoas excêntricas, foi o que a professora disse.

-Pode ser filho, mas isso significa que eles são solitários.

-Não, mamãe, pelo contrário, isso significa que eles devem ter assuntos maravilhosos. Como eles expressam tudo o que pensam, devem se aprofundar em assuntos muito interessantes.

-Como quais assuntos, filho?

-A existência microscópica de bactérias da tristeza e da alegria. A senhora já reparou que coça quando a gente tem um desses sentimentos ao extremo?

-A professora disse isso, filho?

-Não mamãe... Mamãe?

-O quê, filho?

-Acho que eu sou louco...

Inda nessa Indagação?

Lembrei-me, lembrei-me, lembrei-me
Eu sou outra pessoa, não sou?
Lembrei-me, lembrei-me, lembrei-me
A minha dor já passou, não passou?

Fernando, responda pessoa, por quê?
Alberto, responda ciclano, pra quê?

Isso já está desgastado demais,
Tudo já passou pra frente e voltou pra trás.

Que desgastante é viver e sempre querer mais!
Se a vida não é honesta, por que é que dela eu corro atrás?

Responda, responda, responda
Por quê?
Esqueci-me, esqueci-me, esqueci-me
Pra quê.

Excesso dos Seres Internos

Piedade, não há motivo para me olhares assim.
A vida é mesmo difícil... do começo ao fim!
Desespero, não espere que eu me aposse de ti.
Teu corpo é apático e livre da partícula que acometi!

Ora Alegria, pra quê ser tão extrovertida?
Contenha-se e deixe um pouco de energia para a tristeza vendida.
Ódio, o que é isso?
Às vezes você é tão cruel que extermina a minha vontade de estabelecer um compromisso!

Ânsia, deixe que as pessoas vivam calmamente!
Afinal, tua pressa apenas fere tua própria mente...
E Esperança... tu és a mais amada!
Ao mostrar-nos o bom lugar chamado Futuro, mostra ser a amizade mais compartilhada!

Descrença

Tantos números, tantas verdades
E eu sempre me preocupei em desvendar as precariedades!
Por que é que a vida tem que ser assim?
Um átomo, um orbital e a morte no fim?

Um complexo tridentado, uma molécula octaédrica.
A letra: a verdade. O número: a dica!
Por meio dele não se chega a lugar algum!
Por meio dele eu vanglorio o nenhum!

Meu livro amado, por que é que tens que ser tão distante?
Minha escrita adorada, por que é que não pode ser só amante?
Química, és ainda tão criança...
Percorrer por ti é abalar toda uma crença.

Por que é que tudo tem que ser assim?
Por que é que a vida termina no fim,
Se é na experiência que eu fortaleço a minha ideia
E é na descrença que eu refaço a minha estreia?

Victório Sarkis

He was kind, he was generous, A truly gentleman. He was my man, he was gorgeous, A real trust man. Great adventures we had toget...