Voltamos novamente à estaca zero.
-Por que diz isso, Robert?
-Você sabe muito bem, Stan.
-Haha... você não deveria ser tão pessimista. Afinal, envelhecemos mais. Isto já é alguma coisa.
-Só se você se referir ao INSS, Stan.
Esse diálogo vazio deu-se num apartamento dos Blocos Residenciais de Sant Lucy, na nublada cidade de Nova América. Não sabemos muito bem, ainda, o que levou esses dois homens a ter esse diálogo, não é mesmo? E isso aqui não é como o filme "Mais Real que a Ficção", então vamos à estaca zero.
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Stan era um fanfarrão, bem, ainda o é, mas agora está mais para um velho beberrão. Dedicara toda a sua vida à química e à busca da Verdade Absoluta. Está certo que uma parte da população também dedica a sua vida à essa mesma busca ingrata e Stan não diferia-se dessas pessoas, afinal sua dupla fita helicoidal de DNA não era nada exclusiva. Contudo, esse homenzinho realmente tinha algo de especial, afinal quem é que se casa com uma mulher negra, pobre e estupidamente burra apenas por amor?(Se um de meus leitores tão assíduos tiver esssa resposta, que me comunique imediatamente, por favor).
Mary era o nome dela. Dela. Dela. Dela.
(Isso ficou na cabeça de Stan por dois meses).
Até que um certo dia, de repente, não mais que de repente, o ainda jovem Stan a viu na calçada mais longa de seu caminho. Ela vinha com um sorriso na cara, decerto recebera algum elogio ou simplesmente alguma atenção de alguém. Essa gente não estava acostumada a se sentir bem, diriam os nazi-fascistas. Stan gostou do que viu e decidiu cumprir o que prometera a si mesmo dois meses antes. Se visse o sorriso de Mary, que ele suspeitava existir, falaria com ela. Não se sabe se foi apenas o estômago de Stan ou se todos os seus órgãos resolveram guiá-lo àquela conversa, porque ele caminhou quase como viera ao mundo, sem rumo, mas vestido.
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-Quer casar comigo e fugir daqui?
Mary pensou ter ouvido mal, nem preciso explicar-vos o por quê. Stan piscava insistentemente os olhos, como se desejasse que a amada respondesse logo.
Respiração. Respiração. Respiração.
Calma. Calma. Calma. Calma!
Mary respondeu, não com a voz que queria, mas com uma pior, que ela logo pensou 'que voz podre' ao acabar de executar a fala. Mas isso foi justificável, não apenas isso como também todos os erros desse dia. Tudo o que é ao vivo é pior. E a vida é agora,meus amigos!
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-Como ele vai se chamar?
-Robert!
-Por quê?
-Eu tive um mestre com esse nome. Gostava muito dele, até que ele me traiu, mas esse Robert vai me ajudar...e muito.
-Está bem, Stan.
-Tudo bem pra você, Marylove?
-Não precisa nem perguntar, Stan. Eu te amo e isso já te dá direito de escolher muitas coisas sem me consultar.
O triste é que Mary não recebia uma parcela de amor a cada vez que uma pessoa interferia em sua vida.
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Robert estava cansado. Stan continuava com um sorriso na face em busca da Verdade. A questão, amigos, é que Stan chegou bem próximo Dela. Mas ser vizinho dela não necessariamente significa conhecê-la.
A vida no Sant Lucy continuava a mesma, com exceção de Mary, que havia desaparecido. O tempo permanecia nublado, as nuvens estavam cada vez mais inertes. E, mesmo assim, Stan agradecia sorridentemente por cada dia que abria as pálpebras.
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Algo se repetiu, não se sabe se foi parte de um ciclo ou apenas uma peça do efeito dominó, que não tem início ou fim. Uma pessoa chegou tão próximo da Verdade quanto possível e ela terminou por desaparecer. As pessoas ao redor inicialmente contagiam-se com a vontade de seus semelhantes de encontrá-la, mas terminam por julgá-los como loucos por não obterem uma recompensa palpável.
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Os seres ao redor cansam-se, mas o que é melhor: cansar-se por buscar algo que não tem existência comprovada ou cansar-se por despreender julgamentos às pessoas que caminham no sentido de algo com existência duvidosa?
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Vocês, caros leitores, já devem ter escutado que o importante é caminhar no sentido certo. Um físico adicionaria, ainda, que não importa a intensidade dessa velocidade.
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A questão é que a Verdade é simples, muito simples...
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